PF prende 24 por suposto esquema de lavagem

Uma operação da Polícia Federal, da Receita Federal e do Ministério Público Federal, com a cooperação do governo do Uruguai, prendeu ontem 24 pessoas, entre elas Newton José Oliveira Neves, dono do escritório Oliveira Neves & Associados, especializado em consultoria tributária. Também foi preso o empresário Antonio Carlos Chebabe, dono da Ubigás.
Estão presos temporariamente seis advogados, dois estagiários e empresários dos setores de combustível, plástico, avicultura, informática, construção civil e têxtil. Entre os empresários, está o presidente de uma indústria têxtil de médio porte de São Paulo.
Neves, preso ontem em seu apartamento nos Jardins, é acusado de participar de um dos mais “eficientes” esquema de lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, evasão de divisas e formação de quadrilha, segundo a PF. Às empresas, o escritório oferecia serviço de “blindagem patrimonial” em contratos superiores a R$ 100 mil, diz a acusação.

Juiz Nicolau
O escritório de Neves defendeu o juiz aposentado Nicolau dos Santos Neto, condenado a 14 anos de prisão. O esquema que teria sido montado por Neves também teria favorecido o Banco Santos, segundo a apuraçao.
Batizada de “Monte Éden” -por causa das operações em Montevidéu, no Uruguai, e porque as ações envolvem regiões de paraíso fiscal- a investigação começou em março de 2004 com a primeira prisão de Chebabe, resultado de ações da polícia e da Receita no setor de combustíveis. Ele foi acusado de sonegação fiscal e remessa ilegal ao exterior.
Chebabe é um dos 50 empresários clientes do Oliveira Neves que estariam envolvidos nessa “cadeia produtiva” de lavagem de dinheiro. Cinco escritórios de advocacia participariam desse esquema, segundo o MPF. É a primeira vez que uma ação dessas aponta um esquema de lavagem de ponta a ponta: desde o cliente que quer “lavar” o dinheiro até os laranjas que reinvestem na empresa brasileira para devolver esse dinheiro aos clientes.
A Receita estima que essas 50 empresas -de uma lista de 2.000 clientes do escritório- tenham causado prejuízo de R$ 150 milhões só no ano passado. “São empresas que tinham dívidas com o fisco e esconderam o patrimônio para evitar a execução desses débitos”, disse o superintendente-adjunto da Receita em São Paulo, Guilherme Adolfo Mendes. Só com as operações ilícitas no ano passado, o escritório lucrou R$ 20 milhões, segundo a PF.
Segundo a PF, com seminários e livros que ensinavam os empresários a se livrar de impostos, o escritório vendia um pacote de serviços, que incluía a abertura de “offshores” no Uruguai, que oferece vantagens fiscais e permite que os nomes dos donos de uma empresa não sejam revelados.
As “offshores” eram abertas em nome de laranjas que ajudavam os empresários brasileiros a ocultar seus bens e a simular operações para trazer o dinheiro enviado de forma ilícita para fora do país de uma maneira “limpa”, diz a PF. “Só um dos laranjas era sócio de mais de cem empresas”, diz o delegado Bruno Ribeiro Castro.
Dois dos “laranjas” identificados na investigação seriam manobristas do escritório. O escritório também montou uma offshore no Uruguai para receber o pagamento de seus “clientes” brasileiros, e dessa forma, escondia sua movimentação financeira e fugia de impostos, segundo a PF.
Para desmontar o esquema foram mobilizados 500 policiais e 80 agentes da Receita e expedidos 30 mandados de prisão e 80 de busca e apreensão pela Justiça Federal em São Paulo, Rio, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Ceará, Pernambuco e Paraná.
A PF também apreendeu documentos no escritório de advocacia Aleixo Pereira Advogados e no Demarest & Almeida Advogados.
Rogério Aleixo, 32, um dos sócios do escritório, estava indignado com a ação dos policiais, que estiveram na casa de sua irmã às 6h da manhã: “Só descobrimos mais tarde que eles queriam documentos de empresas estrangeiras, que são nossas clientes”.
Os policiais levaram 50 folhas de documentos. “Eram documentos que estavam no escritório para que fossem feitas atualizações com Junta Comercial e Banco Central”, afirma. Na residência da irmã Vânia, os policiais levaram certificado de participação em cursos do Oliveira Neves.
Segundo tributaristas ouvidos por nos , o escritório Oliveira Neves é conhecido no mercado como um dos “campeões” em elisão fiscal -ou seja, é especialista em encontrar brechas tributárias para reduzir impostos. Advogados contaram que Oliveira Neves era “corajoso” -porque trabalhava numa “zona cinzenta” da lei, entre o legal e o ilegal.
Um funcionário do escritório, que trabalha na busca das brechas fiscais, disserao que as empresas contratavam o escritório para obter redução de 30% a 40% na carga tributária, até por meio de liminares.
Funcionários do Oliveira criticaram o fato de a ação policial não envolver outros escritórios que fazem planejamento tributário.

Arrastão da PF prende 24 advogados e empresários

A Polícia Federal desencadeou ontem a Operação Monte Éden e prendeu 24 advogados e empresários envolvidos em suposto esquema de proteção patrimonial, por meio de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, sonegação e falsificação de papéis usando laranjas e offshores – escritórios de fachada – no Uruguai. A investigação federal indica que 40 empresas dos setores de combustível, têxtil, plástico, informática e avícola teriam ocultado da Receita um volume de R$ 150 milhões em ativos, no ano de 2004.

A ação atingiu 7 Estados – São Paulo, Rio, Mato Grosso do Sul, Ceará, Pernambuco, Espírito Santo e Paraná – e foi decretada pela juíza federal Ana Paula Rodrigues Mathias, da 5.ª Vara Criminal Federal do Rio. A juíza expediu 80 mandados de busca e 30 decretos de prisão temporária. Quinhentos agentes da PF e 50 auditores da Receita foram mobilizados. O governo uruguaio cooperou abrindo dados sobre sociedades anônimas financeiras registradas em Montevidéu.

A maioria das prisões ocorreu em São Paulo, onde fica o escritório de advocacia Oliveira Neves, apontado pela Procuradoria da República como um dos principais envolvidos. O titular da banca, Newton José de Oliveira Neves, se autodenomina “um dos mais conceituados advogados do País, com mais de 25 anos de experiência, atuando junto a empresas nacionais e multinacionais”.

Ele se intitula “especialista em direito empresarial, tributário, societário, internacional e investimentos estrangeiros”. Não omite que trabalha com “proteção de bens”. Outros 4 escritórios estão sob investigação.

Oliveira Neves chegou algemado à sede da PF. Ele foi preso em sua cobertura na Alameda Jaú, nos Jardins. Teria lucrado R$ 20 milhões no ano passado protegendo bens de clientes. O arrastão da PF levou para a prisão mais 4 advogados desse escritório, na esquina das Alamedas Santos e Bela Cintra – Ana Claudia Mello, Antonio Teixeira Araújo Jr., Fernanda Duran de Souza e Cíntia Maceron. O estagiário Hugo Nader de Lima também foi capturado.

A origem da investigação é o empresário Antonio Carlos Chebabe, cliente de Oliveira Neves. A PF monitorou telefones do advogado e de outros suspeitos durante 6 meses. São cerca de 30 horas de grampo. Segundo a PF, a escuta revela Neves orientando Chebabe sobre o melhor caminho para blindar patrimônio.

O superintendente regional da PF em São Paulo, José Ivan Guimarães Lobato, chamou a Monte Éden de “exitosa”. A procuradora da República Patrícia Castro Nu?es disse que as prisões e buscas são “um trabalho fantástico”. Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, superintendente-adjunto da Receita, informou que os empresários serão autuados.

PORTADOR

A blindagem patrimonial era feita a partir de contrato – no valor de R$ 100 mil – firmado entre o empresário interessado em ocultar seus ativos do Fisco com advogados. O passo seguinte era a criação de offshore, ou sociedade anônima financeira (ao preço de US$ 3,5 mil), em algum paraíso fiscal, geralmente o Uruguai. A offshore tornava-se majoritária de uma empresa de fachada no Brasil, da qual fazia parte algum laranja. O empresário “vendia” ficticiamente bens e equipamentos para a empresa fantasma. Em seguida, ele alugava esse material declarando despesas inexistentes. A garantia de que continuava proprietário dos ativos eram ações ao portador custodiadas em Montevidéu.

Polícia Federal prende três acusados de integrar grupo de extermínio no Rio

 A Polícia Federal prendeu hoje em Itaboraí, região metropolitana do Rio, três pessoas acusadas de integrar um grupo de extermínio. Durante a chamada Operação Pedra Bonita, oito mandados de prisão e 13 de busca e apreensão foram expedidos pela 2ª Vara Federal contra uma quadrilha envolvida em homicídios na região, incluindo o do policial federal Marcelo da Costa Jardim, em janeiro.

O sargento da Polícia Militar Evaldo Soares Lopes Júnior, acusado de chefiar a quadrilha, resistiu à prisão e foi morto durante troca de tiros. Segundo a Polícia Federal, uma criança que estava na casa do sargento foi ferida de leve por uma bomba de gás lacrimogêneo utilizada pelos policias.

A operação Pedra Bonita contou com a participação de 13 equipes de policiais federais do Comando de Operações Táticas (COT) e da Delegacia de Polícia Federal em Niterói. As investigações foram iniciadas em janeiro, a partir de inquérito policial instaurado para apurar a morte do policial federal Marcelo Jardim.