PF prende 7 suspeitos de fraudar vestibular no país

Quadrilha é acusada de vender vagas em universidades por R$ 25 mil a R$ 70 mil

Esquema aliciava ótimos alunos para fazer provas no lugar dos vestibulandos; para a polícia, universidades não participavam da ação

A Polícia Federal prendeu ontem, em uma operação batizada de “Vaga Certa”, sete pessoas suspeitas de integrar uma quadrilha que vendia vagas em universidades públicas e privadas de ao menos cinco Estados.
De acordo com as investigações, que tiveram a participação do Ministério Público Federal, o preço pelo acesso ilícito às universidades variava de R$ 25 mil a R$ 70 mil. Segundo a PF, foram compradas ao menos 50 vagas em universidades do Ceará, do Rio, de São Paulo, de Minas Gerais e do Paraná.
Não há indícios de envolvimento das universidades no esquema, que, de acordo com a PF, era arquitetado e executado por universitários tidos como “brilhantes”.
O grupo contratava “pilotos” -universitários qualificados- para fazer as provas no lugar dos candidatos, usando carteiras de identidade falsificadas a partir das originais deles. De acordo com a PF, há indícios de que o crime estivesse sendo cometido desde 2004.
Segundo a polícia, além de prestarem o concurso no lugar das pessoas, eles precisavam fornecer detalhes do local onde sentaram, a cor do teste e o tema da redação, para deixar o candidato informado em caso de alguma suspeição.
A quebra dos sigilos bancários dos líderes revelou montantes somados de R$ 1 milhão. Eles tiveram os sigilos quebrados e os bens seqüestrados. Os presos responderão por estelionato, formação de quadrilha e falsidade ideológica.
Dois suspeitos foram presos no Rio de Janeiro e cinco no Ceará. Outras duas pessoas foram denunciadas -incluindo o suspeito de chefiar a quadrilha, o universitário Olavo Vieira de Macedo. Segundo a polícia, ele deverá se entregar hoje.
A mãe de Vieira foi presa sob acusação de intermediar negociações e de auxiliar na lavagem do dinheiro. A PF não divulgou quem seriam os advogados dela e de seu filho.
A maioria dos “pilotos” era do Ceará. Eles recebiam, segundo a PF, de R$ 5.000 a R$ 6.000 por prova. Entre os presos estão Aline Saraiva Martins e Marisa Bandeira de Araújo. A defesa de Aline disse que ela fez só uma prova no lugar de outra pessoa, mas que atuou sob ameaça de morte. A Folha tentou falar com os advogados dos outros suspeitos, mas eles não foram encontrados.
No Rio de Janeiro, foi preso o casal Anélio e Neide Cesaro no apartamento onde moram, na zona norte. Os dois são suspeitos de falsificar os documentos para os “pilotos”. Eles cobrariam pagamento adiantado de R$ 2.500 pela falsificação. Na PF, eles recusaram-se a falar. Os nomes de seus advogados não foram divulgados.

Escutas
Escutas telefônicas flagraram conversas em que integrantes da quadrilha comentam preços e facilidades com possíveis clientes. O preço de um ingresso na Faculdade de Vassouras (médio Paraíba) varia de R$ 28 mil a R$ 40 mil; a de Valença é “100% certa” a aprovação, por R$ 30 mil; na Cesgranrio “não precisa nem fazer prova”, diz um homem.
Segundo o delegado Osvaldo Scalezi, da PF no Rio de Janeiro, o objetivo da próxima etapa da operação é identificar e prender os que compraram as vagas nas universidades. A identificação, segundo ele, será fácil, pois a quadrilha tem os nomes de forma organizada.
Para o procurador da República Marcello Miller, autor da denúncia, “o dano para a sociedade é duplo: corrompem-se exames vestibulares e abrem-se as portas para médicos com formação básica deficiente”. Segundo a PF, os candidatos que participaram do esquema devem perder suas vagas.

Vaga Certa: Suposto chefe de quadrilha se entrega

De acordo com advogado, o jovem não se entregou antes porque era feriado.
Estudante ainda não deu sua versão sobre os fatos.

Foto: TV Globo

Olavo Vieira que se entregou à PF, no Ceará, nesta quarta-feira 

O estudante Olavo Vieira – apontado como chefe da quadrilha que vendia vagas nas universidades públicas e privadas no país – se entregou às 14h desta quarta-feira (2) à Polícia Federal no Ceará. O advogado, José Bonifácio Macedo Filho, informou que não sabe porque o estudante não se apresentou nesta terça-feira. “Talvez não tenha ido porque era feriado”, disse. Ainda há um suspeito foragido, cujo mandado de prisão não foi cumprido. ccc

 

Macedo Filho não informou qual a versão de Olavo sobre os fatos e disse que está acompanhando o depoimento do jovem à polícia. “Ele vai prestar os esclarecimentos necessários. Temos todo interesse que essa situação seja resolvida o mais rápido possível”, afirmou. Segundo a PF, Olavo, que já é formado em direito e estuda medicina, pode ser encaminhado a um presídio ainda nesta quarta.

 

O advogado confirmou que o estudante Olavo estava em lua-de-mel no Rio Grande do Sul, quando soube do pedido de prisão preventiva decretado contra ele.

Não disse, no entanto, se Olavo participava ou não do esquema de venda de vagas nas universidades. “Eu não conversei com ele a respeito do mérito da ação porque não li o processo [que está no Rio de Janeiro]. Não sei do que ele é formalmente acusado. O que eu sei é o que a imprensa divulgou. Assim que ele se apresentar e prestar o seu depoimento, com certeza ele dará a sua versão porque tem direito à ampla defesa”, disse Macedo Filho.

A mãe de Olavo, Maria de Fátima Vieira Macedo, também está presa acusada de cuidar da contabilidade do grupo. No entanto, Macedo filho disse que ela não tem qualquer envolvimento com o esquema e afirmou que vai pedir a revogação de sua prisão. 
 

  A Operação Vaga Certa

A operação foi deflagrada na manhã de segunda-feira (30) no Rio de Janeiro e no Ceará – estados onde estariam as bases da quadrilha. No Rio, duas pessoas foram presas. No Ceará, cinco.

O grupo recrutava bons alunos em cursinhos e nas universidades para que eles fizessem as provas do vestibular no lugar dos verdadeiros candidatos. Para isso, falsificavam documentos e fichas de inscrição. Eles eram chamados de estudantes “pilotos” e recebiam R$ 6.000 por cada aprovação.

 
Além de fazer provas para vestibulandos, a quadrilha também comercializava a transferência de universitários aprovados em universidades particulares para universidades federais e estaduais. Cada vaga era comercializada entre R$ 25 mil e R$ 70 mil, dependendo da complexidade do curso escolhido.

Os alunos “clientes” também estão sendo investigados por crime de fraude no vestibular. Ainda não há prisão decretada contra eles.

De acordo com a PF do Ceará, o esquema de compra de vagas nas universidades funcionava desde 2002 e estava sendo investigado há oito meses. Segundo a polícia, vagas teriam sido comercializadas também em São Paulo, em Minas Gerais e no Paraná. A Polícia Federal de São Paulo informou que não havia nenhuma operação acontecendo na cidade nesta segunda-feira (30).

DPCA prende travesti Linda Welsh por aliciamento e exploração sexual de jovens

Linda Welsh, de 42 anos – registrada como Lindomar Fidélis Miranda -, foi detida em sua casa na Vila Bandeirante, em Goiânia, no início da manhã de ontem (01.10). A Polícia Civil investiga o envolvimento do travesti no aliciamento e exploração sexual de vulneráveis e rufianismo (tirar proveito da prostituição alheia) desde 2009. Ela fica presa preventivamente por 30 dias. Linda nega e afirma que apenas oferecia a sua residência como pensão a outros travestis que não teriam onde ficar.

A denúncia é baseada nos depoimentos de três adolescentes, colhidos desde 2009 por três delegadas. Os jovens contaram que foram convidados a morar com Linda na casa da Vila Bandeirante. O travesti multava os moradores da casa à revelia, além de endividá-los.

O caso de exploração sexual de travestis, sobretudo de adolescentes, ocorre quando pessoas de 12 ou 13 anos reconhecem sua sexualidade, mas, por homofobia, acabam sendo rejeitadas na família, escola e demais esferas sociais. Sem apoio do Estado e da família, a opção de se sujeitarem à exploração passa a ser o único método de sobrevivência.

Nesta situação, outras pessoas passam a se aproveitar da falta de políticas públicas para a população lésbica, gay, bissexual, travesti, transexual e transgênero (LGBT), de acordo com a psicóloga Beth Fernandes. Linda, segundo a investigação policial, seria uma dessas pessoas. Ela aliciaria travestis adolescentes para sua residência e cobrava diária de R$ 50 a R$ 100 pelo quarto, que seriam pagos com prostituição, ou seja, parte do valor ganho em programas era repassada a Linda

Cirurgias

Além disso, Linda Welsh prometia arcar com as cirurgias para a transformação das travestis, como a colocação de silicones e demais práticas estéticas. Para tal, Linda pagava o procedimento e cobrava do travesti o dobro do valor, de acordo com a titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), Renata Vieira da Silva Freitas, responsável pelo caso.

Segundo Beth, que é presidente do Fórum de Transexuais de Goiás e coordenadora da Associação de Travestis de Goiás (Astral-GO), essas cirurgias de transformação são todas clandestinas, com riscos à saúde. A clandestinidade ocorre pelo fato de que adolescentes, ainda sem a autorização de responsáveis, passam por esses procedimentos, o que seria contra a ética médica.

Os três travestis que prestaram depoimentos o fizeram após fugir da casa de Linda, mesmo sob ameaças. Um dos métodos de “aprisionar” as pessoas era guardar as roupas, impedindo que os travestis saíssem. Segundo os relatos à polícia, Linda chegou a agredir um deles. Dos três, apenas um deles alega se arrepender de ter feito programas, mas todos se declaram travestis e sem arrependimento das cirurgias.

A delegada Renata Vieira estima, baseado no depoimento dos seis travestis maiores de idade que estavam na residência de Linda no momento da ação policial, que os três jovens não estejam mais em Goiânia. Para Beth Fernandes, é possível que eles sejam explorados por outra pessoa.

Renata Vieira conta que há relatos de outros travestis de que alguns procedimentos estéticos eram realizados com a aplicação direta de silicone, por um travesti chamado Joyce. A polícia ainda não conseguiu identificá-lo. Na casa de Linda, além de outros seis travestis detidos para prestar depoimentos, foram apreendidas fotos de práticas sexuais, máquinas fotográficas, dois computadores, R$ 3.475 em espécie, 10 dólares e cadernos com a contabilidade da casa.

Linda cobrava, nos programas dos travestis, uma taxa para a ida a outros locais, como motéis ou hotéis. A casa é simples, com vários quartos e estruturas que permitiam o serviço de bar. No entanto, Linda e os outros travestis contaram que não eram realizados programas sexuais no local nem mesmo a permissão de que menores dormissem na casa.

Dos seis travestis detidos para prestarem depoimentos, Renata Vieira acredita que dois eram funcionários de Linda, sendo uma empregada doméstica e outra responsável pela contabilidade. Exceto as duas, em depoimento, os demais assumiram ser explorados por Linda e que não conseguiam sair da casa em razão das dívidas com a proprietária.

Prisão em 2006 pela PF

Lindomar Fidélis de Miranda, a Linda Welsh, em março de 2006, foi detida pela Polícia Federal em Uberlândia (MG) por suspeita de tráfico internacional de pessoas. A Operação Tarantela investigou a participação dela no envio de seis pessoas para a Itália, onde eram exploradas sexualmente. Segundo a PF, Linda e Maksuri (José Maria Siqueira Santos) lideravam os pontos em Goiânia e agenciavam travestis em Uberlândia e Belém. Na Itália eram apresentadas a Erika ou Kika (Elias Mota da Costa), que pegava a documentação das vítimas e só devolvia após pagamento de despesas.